DEMÊNCIA, SOLIDÃO E CONEXÃO

Como criar sentimento de pertencimento e conexão em pessoas com demência

O que é conexão entre pessoas?

Brené Brown (Professora de serviço social na Universidade de Houston pesquisadora norte-americana, escritora e palestrante, conhecida em particular por sua pesquisa sobre vergonha, vulnerabilidade e liderança) ensina que “Conexão é a energia que existe entre as pessoas quando elas se sentem vistas, ouvidas e valorizadas; quando podem dar e receber sem julgamento; e quando obtêm amparo e força do relacionamento.”

Conexão é uma necessidade humana fundamental


Quando estamos conectados com os outros, nos sentimos próximos, amados, cuidados, seguros e valorizados. Somos capazes de formar relacionamentos significativos e duradouros.

Quando nos falta uma conexão social significativa – quando nos sentimos solitários, antipáticos, excluídos, desprezados ou desvalorizados – podemos experimentar uma série de sentimentos negativos:

 – Ansiedade

– Depressão

– Comportamento anti-social

– Baixa autoestima

– Agressão

– Ciúme

– Perda.

– Doença metabólica

– Aumento de processos inflamatórios

Pelo contrário, sentir-se aceito e acolhido tende a promover sentimentos de calma, felicidade e uma melhor capacidade de lidar com o estresse . A conexão e o sentimento de pertencimento – ou a falta dele – tem um grande efeito em nossa saúde e no bem-estar físico e mental.

Precisamos sentir que pertencemos.


Evolutivamente falando, pertencer a um grupo sempre foi uma necessidade essencial. Faz sentido. Sempre tivemos muito mais chances de sobreviver como parte de um grupo do que sozinhos.

Um amplo conjunto de evidências mostra que nós, humanos, temos um impulso natural de nos conectar uns com os outros – e também que um sentimento de pertencimento é vital para o nosso bem-estar.

Especificamente, é o sentimento de pertencer a algum tipo de grupo que faz a diferença. O próprio tipo de grupo parece ser secundário. Pode ser nosso:

– Nação- Grupo político, religioso ou social- Família- Bairro- Escola ou local de trabalho- Grupo de amigos

Estar conectado e fazer ativamente parte de um  grupo maior, faz-nos sentir que pertencemos, e ficamos menos propensos a sentimentos de isolamento ou solidão.

Sentir que pertencemos a um grupo significa que:

– Nos identificamos como parte do grupo
– Nos sentimos conectados a outras pessoas no grupo

Sentir-se desconectado esgota nossos recursos mentais


Quando nos sentimos como um estranho, nossos cérebros tendem a usar mais energia mental, pois estão continuamente monitorando possíveis ameaças. Isso significa que é mais provável que estejamos em guarda e na defensiva. É pouco provável que nos deixemos relaxar ou nos envolvamos abertamente com o mundo ao nosso redor.

Ao consumir mais energia mental para defesa, sobra menos para outros usos – como pensar e funcionar. Quando a demência já está limitando nossa energia mental disponível, o efeito pode ser mais profundo. É provavelmente vejamos mudanças dramáticas em:

– Confusão

– Esquecimento

– Desorientação

– Julgamento

– Habilidades de tomada de decisão

– Habilidades de linguagem

– Níveis de fadiga

– Capacidade de realizar AVDs

Sentir-se como um estranho também libera hormônios do estresse como o cortisol, que pode reduzir ainda mais nossa capacidade de pensar e agir. O estresse prolongado ou frequente também tem um forte impacto negativo em nossa saúde e na capacidade de funcionamento de nosso cérebro.

Sinais de Solidão em Pessoas com Demência


Possíveis sinais comportamentais de solidão em pessoas com demência são bastante semelhantes a sinais de luto, depressão ou dor – e que geralmente são definidos como “sintomas comportamentais de demência”.

– Ansiedade

– Depressão

– Raiva

– Retraimento social

– Distúrbios do sono

– Baixa autoestima

– Agressividade

– Cansaço

– Perda de interesse em atividades favoritas

– Alterações de peso ou apetite

– Dificuldade de concentração ou tomada de decisões
– Incapacidade de autorregular o comportamento ou Impulsos
– Comportamento anti social

A chave para abordar esses sintomas com sucesso é primeiro reconhecê-los como sinais de alerta e, em seguida, analisar a situação em busca de pistas do que podem estar desencadeando cada problema. Qual necessidade não está sendo atendida?

Os sinais situacionais que podem sugerir que a pessoa com demência está se sentindo solitária ou desconectada incluem:

– Ter poucos ou nenhum relacionamento forte e ativo com os outros

– Ter poucas interações com os outros regularmente

– Não participar de grupos (uma participação mesmo que passiva pode ser suficiente para atender às suas necessidades em alguns casos)

– Parece ou indica que se sente desconectada das pessoas ao seu redor ou que não pertence a este mundo

Apoiando a Conexão em Pessoas com Demência


Para apoiar conexões significativas em pessoas com demência, podemos facilitar ou estabelecer interações regulares com outras pessoas. Como?

– Ajudando-as a fazer as refeições com a mesma pessoa ou grupo

– Ajudando a marcar visitas regulares pessoalmente ou por telefone com familiares e amigos

– Providenciando a ida a sessões religiosas ou a encontros de grupo social

Lembre-se de que passar o tempo com qualquer pessoa não criará automaticamente um sentimento de pertencimento. Procure aqueles que compartilham um relacionamento saudável, com interesses comuns ou habilidades sociais complementares. A conexão e a interação repetida com as mesmas pessoas é que estabelece o vínculo.

Incentive-os a dar e também a receber


Sentir-se valioso, útil e capaz de contribuir para um relacionamento também pode ser uma parte importante da conexão.

A maioria de nós – com demência ou não – deseja não apenas receber atenção, mas também se doar aos outros. Quando apoiamos ou nos doamos às pessoas de quem cuidamos, as oportunidades de serem e se sentirem úteis, também reforçamos a capacidade de conexão.

Como podemos nos conectar?


O autor e pensador SETH GODIN sugere que o primeiro passo para se conectar com os outros é entender que eles estão sempre “certos”. Esta atitude é especialmente verdadeira quando se quer conectar com alguém com demência. Para nos conectarmos com os outros, devemos estar presentes e atentos ao momento. Devemos estar abertos para nos conectar e ouvir ativamente.

Para promover a conexão, veja as estratégias recomendadas:


– A interação individual em um ambiente de baixa distração geralmente será mais eficaz.

Estar totalmente presente – dando toda a atenção à pessoa – pode ser a peça de conexão mais importante.

Esteja inteiramente presente. Isto é:

– Ouça ativamente com toda a atenção

– Mostre claro interesse e se importe com o que a pessoa está dizendo.

– Ofereça um sorriso sincero (ou outras expressões/emoções apropriadas na situação)

– Faça contato visual

– Espelhe sua linguagem corporal, expressões faciais, tom de voz e nível de energia. Esteja atento à comunicação não verbal

– Conecte-se com toques, se for apropriado;

– Seja aberto e empático. Mantenha o coração aberto – mesmo quando parece estranho ou desconfortável – pode ser um componente chave da conexão. Frequentemente, as pessoas se conectam mais profundamente com as emoções mais difíceis da vida. Não descarte sentimentos tristes ou negativos da pessoa. Simplesmente dar tempo para que ela os processe pode ser extremamente útil e uma maneira realmente eficaz de se conectar.

– Use empatia e gentileza, componentes importantes da conexão.

– Seja confiável. A confiança é uma parte importante da conexão, portanto, merecer a confiança de alguém é parte integrante da conexão. Mesmo as pessoas em estágios avançados da demência se perceberão, em algum nível, se podemos ou não confiar em nós. As pessoas tomam decisões em frações de segundo sobre se podemos ou não confiar uns nos outros – é um instinto de sobrevivência profundamente enraizado. A maioria das pessoas tende a confiar naqueles que são calorosos, abertos, autênticos e que parecem confiantes, qualificados, experientes e respeitáveis.

– Seja Autêntico. Não podemos nos conectar de verdade com alguém quando não estamos sendo fiéis a nós mesmos. Isso não significa que precisamos revelar toda a nossa vida às pessoas – mas significa que precisamos ser genuínos e sinceros em nossas interações.

– Seja compreensivo. Precisamos mostrar que estamos entendendo o momento da pessoa e transmitir esse entendimento de forma eficaz. Procure compreender a realidade da pessoa sob o ponto de vista dela.         

– Não julgue. Precisamos fazer o possível para não julgar e lembrar que todos estamos fazendo o melhor a cada momento. Apenas preste atenção ao que a pessoa está tentando transmitir.

– Valide seus sentimentos. Resuma sua compreensão ou valide seus sentimentos de vez em quando. Identifique e nomeie uma emoção específica que a pessoa está sentindo. Geralmente não é necessário tentar oferecer soluções para seus problemas – as pessoas muitas vezes não procuram conselhos, mas de alguém que simplesmente as ouça e entenda suas emoções e reações.

– Esteja presente por pequenos momentos ao longo do tempo. Não descarte os pequenos momentos de conexão com uma pessoa que vive com demência. Apenas parar, fazer contato visual e oferecer um sorriso genuíno já pode fazer uma grande diferença.


Extraído do artigo “Dementia, loneliness and connection”, publicado em ABC DEMENTIA BLOG. Original disponível clicando aqui.


POLÍTICA EDITORIAL: O site TERCEIRA IDADE MELHOR acredita que a educação é a chave para o sucesso no atendimento a pessoas com ALZHEIMER e outras demências. Trabalhamos para garantir que a seleção de recursos e conteúdos sobre IDOSOS, ALZHEIMER e outras demências, aqui publicados contribuam para a conscientização e apoio a famílias e profissionais que se dedicam aos idosos.

Observação: As informações contidas neste site não devem ser usadas como substitutivo de cuidados e aconselhamentos médicos.


Publicado por: Maria Aparecida Griza (CIDA GRIZA)       Especialista em Saúde Mental. Psicopatologia e Psicanálise / PUCPR    |     Especialista em Atenção à Saúde da Pessoa Idosa – Gerontologia / UFSC    |     Especialista em Rede de Atenção à Saúde da Pessoa com Deficiência


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