5 MITOS COMUNS SOBRE ENVELHECIMENTO DO CÉREBRO E DO CORPO
A população mundial, assim como no Brasil, está crescendo. O número de adultos com mais de 65 anos está aumentando, assim como a proporção da população que eles representam. Contudo, há alguns de mitos associados ao que ocorre nos nossos cérebros e corpos, à medida que o envelhecimento avança.
- Demência é parte inevitável do envelhecimento
A prevalência da demência aumenta com a idade. Isto é, a probabilidade de ter um diagnóstico de demência é maior quanto mais idoso você fica. Mas se você é feliz por ter alcançado uma idade avançada, não terá necessariamente uma demência. Demência é um diagnóstico clínico que é caracterizado por deficiência em cognição (o modo como pensamos) e em habilidades funcionais (que nos capacita a viver independentemente).
O tipo mais frequente de demência é a Doença de Alzheimer, embora haja muitos outros, como demência vascular (relacionada a alterações vasculares no cérebro em decorrência, por exemplo, de um AVC), demência frontotemporal (atrofia cerebral muito acentuada nas regiões temporal e cortical do cérebro), demência de corpúsculos de Lewy (relacionada ao depósito de uma determinada proteína chamada corpúsculo de Lewy) e demências mistas – onde diferentes tipos ocorrem simultaneamente.
Contudo, menos de 2% dos idosos entre 65-69 anos têm diagnóstico de demência, e este índice aumenta para 30% para aqueles com 90 ou mais anos. Isto quer dizer que aproximadamente 70% dos idosos com 90 ou mais anos não têm demência.
No Brasil em 2014, segundo dados do IBGE, a expectativa de vida era de 71.6 para homens e 78.87 para mulheres; assim, a maioria de nós não terá diagnóstico de demência.
- A cognição declina após os 20’s
A cognição se refere ao modo como pensamos. mas há diversos tipos de habilidades de pensar. Por exemplo, a velocidade com que conseguimos responder (velocidade de processamento), a habilidade de lembrar de objetos (memória geral) e o conhecimento das palavras e seus significados (conhecimento de vocabulário). Estes domínios da cognição apresentam diferentes padrões de alteração na fase adulta.
- Eu não posso alterar meu risco de demência
Tem sido estimado que até 30% dos casos de demência poderiam ser prevenidos por escolhas certas do estilo de vida. Evidências mostram que fatores cardíacos na meia tarde, especialmente diabetes, hipertensão arterial, obesidade e sedentarismo, aumentam os riscos de desenvolver demência mais adiante na idade avançada, assim como ter depressão, fumar e baixa escolaridade.
Assim, um jeito de diminuir o risco de demência é reduzir fatores cardíacos de risco – por exemplo, mais exercícios e redução de seu peso, se é obeso. Engajar-se em atividades que promovam estímulos cognitivos como educação formal (em universidades) e informal (cursos de curta duração), e encontros sociais, tem demonstrado que reduzem o risco de demência.
Estas evidências foram apresentadas em recentes estudos nos Europa e nos Estados Unidos, que demonstram que os riscos individuais de demência vem sendo reduzido nas últimas duas décadas. Porque? Bem, parece que os atuais adultos idosos são física e cognitivamente mais saudáveis que seus predecessores.
- Eu vou ter demência se meus pais tiveram
Demência na idade avançada, que é diagnosticada quando se tem 65 anos ou mais, é apenas levemente influenciada por herança genética. Nove genes foram identificados que podem aumentar ou diminuir o risco de demência. Deste apenas um pode ter alguma influência: o apolipoprotein E. Se uma pessoa tem uma combinação (alelos¹ E4E4), tem até 15 vezes mais propensão de apresentar uma demência assim como quem tem a combinação típica (E3E3). Contudo, todos os outros genes identificados têm um efeito pequeno no aumento ou redução dos riscos de desenvolver uma demência.
Sob a perspectiva dos riscos genéticos, eles são menores que os fatores de estilo de vida mencionados anteriormente. Isto é, a demência pode ser causada muito mais pela obesidade (aproximadamente 60% dos casos) ou pelo sedentarismo (aproximadamente 80% dos casos). Estes comparativos não são precisos, pois pode ser que os genes relacionados à demência também estejam relacionados a fatores decorrentes do estilo de vida. porém são suficientes para mostrar quão poderosos são os fatores do estilo de vida
- Meu peso deverá se manter o mesmo
Simples leis físicas sobre energia nos dizem que se as calorias que ingerimos é igual á que queimamos, nosso peso se manterá essencialmente estável. Muitas pessoas acreditam nesta verdade nutricional simples e confiável, mas deixam de levar em conta efeitos significativos do envelhecimento no metabolismo da energia.
Quando chega o envelhecimento, a composição do nosso corpo muda. Em particular, temos uma tendência de mudanças recíprocas em gorduras (de aumento) e massa muscular (de redução) e estas mudanças aparecem em graus diferentes em homens e mulheres. Homens parecem ter um declínio mais acentuado do tecido muscular, o que contribui para uma redução do consumo total de energia em aproximadamente 3% a cada 10 anos.
Em mulheres, este índice é levemente menor, comparado com o dos homens (aproximadamente redução de 2% a cada 10 anos). Isto simplesmente significa que se você continuar a comer e se exercitar do mesmo modo à medida que envelhece, você estará ganhando peso, e em última instância, se traduzirá principalmente em acúmulo da gordura.
O envelhecimento não é um processo biológico passivo. É preciso entender melhor nosso corpo e suas mudanças, se queremos mantê-lo saudável e prevenir o aparecimento de doenças como a demência.
____________________________________________________________________
Artigo original publicado em 23/01/2017:
“Five common myths about the ageing brain and body”
https://theconversation.com/five-common-myths-about-the-ageing-brain-and-body-67699
Autores:
Hannah Keage – Senior Lecturer in Psychology, University of South Australia; had received funding from the NHMRC and Brain Foundation. She is affiliated with the Australasian Cognitive Neuroscience Society and Australian Association of Gerontology
Blossom Christa Maree Stephan – Senior lecturer, Newcastle University; has received funding from NIHR, Alzheimer’s Research UK and the MRC.
(trad. livre T. MIZUTANI)
____________________________________________________________________
Nota da tradução (¹) Alelo = Uma de duas ou mais formas alternativas de um gene, situada na mesma área de cada par de cromossomos e cada qual produzindo um efeito diferente; alelomorfo (Dicionário Michaelis)
More from my site