É proibido dirigir! Alzheimer: quando parar de dirigir.

parar de dirigir8 sinais indicadores para um portador de Alzheimer parar de dirigir.

Convencer uma pessoa com Alzheimer de que ela tem que parar de dirigir o carro, pode ser uma das mais difíceis tarefas que um cuidador vai enfrentar.

Imagine como você se sentiria se fosse proibido de dirigir – pegar o carro, ir aonde quiser e quando quiser, NÃO PODE MAIS. Sua liberdade, autonomia e mobilidade se foram, e subitamente você tem que contar com a ajuda de outros para suas necessidades de deslocamento.

Há pessoas, raras é verdade, que ao sentir suas deficiências e falhas constantes ao volante por si só chegam à conclusão de que está na hora de parar de dirigir, para o bem da própria segurança. Mas, regra geral, o que ocorre é uma forte resistência a aceitar tal condição.

Cuidadores relatam que aqueles que sofrem de demência raramente abrem mão do direito e da capacidade de dirigir, sem oferecer resistência.

Incapaz de perceber o comprometimento em suas habilidades, o paciente rechaça a ideia de se desfazer do carro, embora a perda das habilidades estejam visíveis para qualquer observador.

Quase sempre a abordagem deste assunto é certamente uma das mais complicadas tarefas.Infelizmente não há padrões de procedimentos ou regras seguras para seguir. Entretanto, algumas ações podem ajudar.

Quais são os sinais para parar de dirigir?

Fazer um levantamento das atuais habilidades ou dificuldades do paciente ao volante, cuidadores podem notar típicos sinais de alerta:

  • Esquecimento de como localizar um lugar familiar
  • Erros frequentes nas manobras
  • Falhas em observar regras de trânsito
  • Dirigir em velocidade imprópria, muitas vezes muito lentamente
  • Mostrar reações lentas e demoradas
  • Hesitações em tomada de decisões
  • Confusão entre os pedais de freio e acelerador
  • Desatenção frequente nos cruzamentos

Se  o cuidador notar a incidência de alguns destes sinais, com grande probabilidade está na hora da pessoa com Alzheimer parar de dirigir. A própria segurança do paciente bem como a de terceiros devem ser as preocupações principais.

Qual a melhor maneira de abordar o assunto?

Comece com uma conversa breve em que você compartilha com o paciente suas preocupações, citando exemplos de situações perigosas e apelando para o senso de responsabilidade. No dia seguinte, continue com uma nova conversa trazendo de volta o assunto. Repita estas conversas algumas vezes.

Eventualmente comece falando sobre alternativas de transporte. Fale com carinho, sem cobranças ou culpas. Ouça as respostas e mostre empatia ao fazê-lo ver o assunto sob outros pontos de vista. Tenha paciência e invista tempo em procurar entender sentimentos e resistências. Mantenha-se calmo mas firme no objetivo de convencer a deixar de dirigir.

Isto tudo parece fácil no papel mas tirar o privilégio de alguém que faz isso há anos, pode trazer à tona sentimentos contraditórios e reações mais agressivas.

Estágios mais avançados do doença

Devido à doença, e especialmente quando esta atingir estágios mais avançados, as reações podem ser de raiva, de revolta ou de recusa em continuar a falar do assunto. Lembre-se de que não é culpa da pessoa. Perdas cognitivas podem tornar impossível para a pessoa entender porque dirigir veículos não é mais seguro.

  • Se continuar a ser fortemente resistente, procure uma intervenção profissional.
  • O médico da família pode dizer à pessoa que ela deve se ” aposentar” da atividade de dirigir. Alguns médicos chegam mesmo a prescrever “não dirigir”. Outros cuidadores pedem ajuda a advogados ou agentes de seguro para reforçar a mensagem.
  • Estas intervenções e declarações de especialistas muitas vezes ajudam a pessoa a entender que é chegado o tempo de parar de dirigir. Adicionalmente, a incumbência de tratar do assunto sai das mãos do cuidador, fazendo com que a pessoa “má” seja uma autoridade no assunto, porém externa, e não o cuidador.
  • Após falar, argumentar e discutir com a presença de autoridades externas, e comunicar a decisão, é recomendável não deixar as chaves do carro ao alcance das mãos e até mesmo remover o carro para outro lugar.

Nunca subestime o desejo da pessoa de dirigir e nunca conclua que o assunto está encerrado até que tenha sido suspensa inteiramente a capacidade de fazê-lo. Não é raro, a pessoa parar por um período, mas voltar a dirigir algum tempo depois sem o conhecimento do cuidador.

Planejar alternativas de locomoção

Enquanto esse processo está em curso, o cuidador deve planejar e prover alternativas de locomoção.

Defina quem será o responsável pelo transporte da pessoa para os encontros e atividades diárias. Crie uma escala e inclua tempo para algumas viagens ou saídas a passeio. Se possível, contrate o serviço de taxi ou serviço especializado de transporte. Peça para outros familiares, amigos e voluntários que deem uma mão, revezando-se no trabalho de locomoção.

Faça um levantamento de todas as viagens e saídas. Muitas podem não ser necessárias. Por exemplo, utilize os serviços de entrega oferecidos para refeições, produtos de supermercado, doces etc. através da compra on line disponíveis.

Como cuidador nunca reclame se precisar dirigir para levar o paciente a algum lugar. Tais comentários apenas servem para reabrir uma ferida que começou a cicatrizar. Dê apoio e mostre através de ações que a vida continua, mesmo não tendo mais as chaves do carro.

Conversas sobre tirar a liberdade de dirigir é certamente uma das mais estressantes e o cuidador deve estar preparado para mais esta tarefa.

Original de Nancy Wurtzel em Alzheimer’s Reading Room 

Adaptação e tradução livre: T. Mizutani (Equipe 3iMelhor)

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